Quando me debruço sobre um tema
para desenvolver um texto teatral, busco antes de tudo a essência do discurso, ou
seja, qual a mensagem que existe por debaixo de tantas camadas. Porém, esta
mensagem não é e nem deve ser algo como a MORAL, mas apenas a clara e pessoal
manifestação de um pensamento, através do prisma da arte. Não é o certo ou o
adequado, é apenas a minha visão e sempre é aquilo que me move no momento. E para
este trabalho, a SOLIDÃO, o MEDO e a PERCA DE UM ENTE AMADO foram os motores da
história do menino Miguel.
Assim como o pedia o projeto
inicial, que seria apresentado para crianças, escrevi um texto que agraciasse
os pequenos, porém não poderia me privar de minha linha de pensamento, pois o
teatro deve ser um agente de liberdade da mente e não mero entretenimento. E
para isso, questões transcendentais precisariam estar em discussão. Escolhi O
ABORTO.
Uma amiga, recentemente, havia
feito um aborto. Quando mais jovem, uma garota com quem me relacionava, tempos
depois de termos terminado, me confessou que fez um aborto, o nome dele seria
Miguel. Minha própria ex-esposa, quando namorávamos deve ter feito alguns. Meu
amado filho André Henrique, quando fiquei sabendo da gravidez, tentamos abortar.
E estas histórias eram meus fantasmas. Exatamente por isso, precisaria
exorcizá-los em meus textos.
E foi exatamente o que fiz, um
texto para crianças, que traz a história do menino Miguel, que passou toda a
sua existência sozinho, dentro de um sótão, que tem sua história contada por um
narrador, fruto do imaginário deste menino, mas que por debaixo de todas as
camadas, fala da dor do pequeno ser que nunca nasceu e ainda nem percebeu, e de
sua mãe que nunca pôde segurá-lo em seus
braços.
Nenhum comentário:
Postar um comentário